PRORROGADO - Dossiê temático (2025.1): Tempo e os marcadores sociais da diferença: narrar a história sob outras perspectivas
Organizadores:
Antônio Augusto Oliveira Gonçalves (UEMG)
Dr. em Antropologia Social (UFG)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9278970249460014
Flávia Valéria Cassimiro Braga Melo (UEG)
Dra. em Antropologia Social (UFG)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2099099256119114
Paulo Brito do Prado (UFPI)
Dr. em História Social (UFF) e em Antropologia Social (UFG)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9639161981901072
PROPOSTA:
A virada linguística, as renovadas epistemologias produzidas fora do centro norte, a emergência dos movimentos sociais e os impactos desses movimentos na Universidade e na pesquisa científica tem oportunizado, no âmbito da produção historiográfica, reflexões influenciadas pelos feminismos, pela interseccionalidade, subalternidade e pelos marcadores sociais da diferença (SCOTT, 2008; VIGOYA, 2018). O presente dossiê objetiva criar espaço para reflexões interessadas em problematizar, analisar e teorizar a produção social da diferença no tempo (SOIHET, 1989), por intermédio da articulação de categorias de análise (gênero, raça, sexualidade, região, classe) em interface com as contribuições dos estudos preocupados com os marcadores sociais de diferença, suas relações com a perspectiva metodológica da interseccionalidade e da associação de categorias (DAVIS, 2016; GONZALEZ, 2020) para a escrita e o ensino em história.
Já se percebe em diferentes programas de pós-graduação em História, revistas acadêmicas da área, artigos e livros um debruçar sobre os marcadores sociais da diferença e propostas de leitura influenciadas pela interseccionalidade. Exemplos disso podem ser notados na preocupação com a produção intelectual de autoria negra e os impactos do racismo no seu silenciamento (PINTO, 2015), a condição das mulheres negras e pobres na sociedade brasileira (SOIHET, 1989), debates frugais em torno das homossexualidades tem sido realizado no interior dos estudos queer e das masculinidades (VIGOYA, 2018; BUTLER, 2015), a juventude negra, xs trabalhadorxs negrxs e pobres lugarizadxs entre o campo e a cidade, o corpo negro, o racismo estruturado na produção da corporeidade negra e suas diversas representações (GOMES, 2019; XAVIER, 2021), também tem se tornado o foco do olhar historiográfico e garantido um reescrever e um ensinar da história sob perspectivas descoloniais e nossamericanas (VIGOYA, 2018).
A partir do que se expôs, bem brevemente, o espaço que se pretende criar aqui objetiva problematizar, apontar e questionar em que medida pessoas negras, pobres, gays, trans, trabalhadorxs do sexo, indígenas, quilombolas e ativistas se tornaram alvo de múltiplas violências ao longo do tempo, em função de trazerem em seus corpos marcas utilizadas para diferenciá-los, hierarquizá-los e lugariza-los nos recônditos do silêncio, nos confins da história, nas fronteiras do não-dito e do apagamento.
Referências
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
VIGOYA, Mara Viveros. As cores da masculinidade: experiências interseccionais e práticas de poder na Nossa América. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2018.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
PINTO, Ana Flávia Magalhães. Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2018.
SCOTT, Joan Wallach. Género y historia. México: FCE, Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2008.
SOIHET, Rachel. Condição feminina e formas de violência: mulheres pobres e ordem urbana, 1890-1920. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.
XAVIER, Giovana. História social da beleza negra. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021.