O SER E O NÃO SER INDÍGENA NO BRASIL OITOCENTISTA: uma breve genealogia das categorias elaboradas pelo Estado nacional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18817/ot.v19i34.993

Palavras-chave:

Identidade indígena, Reemergência étnica, Censos demográficos

Resumo

O artigo pretende discutir a identidade indígena no campo jurídico e nas políticas indigenistas do século XIX, abordando as categorias elaboradas a esse respeito durante a formação do Estado brasileiro no período pós-independência. Observamos a elaboração da alteridade dos povos originários enquadrada nos debates constitucionais e enunciados censitários. Propomos refletir como foi construído o discurso oficial do ser e do não ser indígena no Brasil Oitocentista, descrevendo significados de termos como “caboclos”, “pardos” e “mestiços” em leis que extinguiam aldeamentos e permitiam a apropriação de terras indígenas e a obtenção de trabalhadores. A metodologia está estruturada na revisão bibliográfica interdisciplinar das áreas de história, antropologia e direito, com base no aporte epistemológico de Manuela Carneiro da Cunha, John Manuel Monteiro e João Pacheco de Oliveira Filho; com o intuito de examinar criticamente as continuidades e descontinuidades históricas de negação da identidade indígena diante da afirmação do ser indígena na contemporaneidade.

 

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Biografia do Autor

LORENA VARÃO, UnB

Doutoranda em Direito pela UnB

Pesquisadora Jurídica do CFOAB

SÉRGIO FERRO, UFPB

Doutorando em Ciências Jurídicas pela UFPB

Professor da Faculdade Irecê

 

Referências

Documentos

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Publicado

2022-07-04

Como Citar

VARÃO, L. ., & FERRO, S. . (2022). O SER E O NÃO SER INDÍGENA NO BRASIL OITOCENTISTA: uma breve genealogia das categorias elaboradas pelo Estado nacional. Outros Tempos: Pesquisa Em Foco - História, 19(34), 324–353. https://doi.org/10.18817/ot.v19i34.993